domingo, 11 de janeiro de 2009

A mística da mulher dos tremoços


Hoje acordei e senti esta necessidade incontrolável de falar da mulher dos tremoços: Afinal quem é a mulher dos tremoços?
A mulher dos tremoços poderá eventualmente ser mítica para os mais urbanos, contudo quem não se recorda, nos meios mais rurais, daquela senhora obtusa, invariavelmente de bigode e eventualmente pêra!? Pois é, lenço na cabeça e a apregoar de aldeia em aldeia à clientela habitual, fazendo-se acompanhar pelo seu carrinho de mão cheio de fabáceos húmidos e amarelos e, de quando em vez, umas pevides.
Mas afinal o que tem de especial a mulher dos tremoços, ou simplesmente o tremoço em si? A mulher dos tremoços tem uma mística que a envolve, para além de ser um mito urbano. Contudo, a sua subsistência tem sido cada vez mais ameaçada pelas facilidades de acessibilidade aos grandes centros de comércio, tornando-se numa verdadeira profissão em vias de extinção, diria até uma espécie em vias de extinção, já que as características de tais comerciantes serem tão pouco vulgares. Para além do mais, estas ainda servem de fornecedor às típicas tascas do copo de vinho, onde os mais idosos conservam a sua carne em vinha-d’alhos e fazem acompanhar o belo néctar com o belo tremoço, quando não são petiscos mais arrojados como a moela ou a bela da isca. Mas não nos vamos distrair, afinal estou aqui para falar unicamente da mulher e/ou do tremoço.
Continuando a linha de pensamento que me atravessa a mente, o tremoço acaba por ser, economicamente falando, uma grande fonte de consumismo. Pois pensemos em conjunto: a mulher dos tremoços para poder mover o seu negocio tem de adquirir um carinho que lhe dê o devido conforto para se poder mover, precisa de bacias para colocar o seu produto, sacos para o embalar, eventualmente de um guarda-sol para as estações mais quentes, ou um chapéu de chuva e/ou impermeável para proteger o produto nas estações mais chuvosas. Este produtos desencadeia consumos paralelos, tal como descrito anteriormente: o copo de vinho (por vezes até mesmo o garrafão de vinho – depende da resistência física e psíquica ao grau!). Com este discurso completamente ridículo e sem sentido, lanço aqui uma corrente daquelas ainda mais ridículas: vamos salvar as mulheres dos tremoços do nosso país da morte certa! Sempre que se cruzarem com este ser único e especial, comprem um saquinho de tremoços, ao que podem sempre acompanhar com a bela loira ou o copo de vinho – ajuda sempre a esquecer as baixas temperaturas que se fazem sentir e caso sejam um dos casos, a esquecer as dificuldades económicas com tendência a agravar.

Agora vamos falar do tremoço em si. O tremoço, tal como já expliquei, é um fabáceo. Numa visão mais visceral, o tremoço não passa de um petisco amarelo, húmido, de casca grossa e impermeável e com efeitos secundários, e igualmente viscerais, catastróficos. O tremoço é produto de socialização: atrás de um saco de tremoços está invariavelmente um grupo de indivíduos que partilha do mesmo desporto de alimentar a gula do tremoço.

Depois deste longo discurso desconexo, desprovido de qualquer sentido e interesse, despeço-me por hoje, finalizando este discurso com a lembrança que o tremoço inclusivamente já teve o direito de dar o nome a uma terra, tal não é a sua importância: a Tremoçeira.

1 comentário:

Pedro Raimundo disse...

Olá Diana! Veio a minha pessoa estrear se aqui no seu espaço. Pois é entre uma série e outra, não resisti... e é com pena que afirmo nunca ter encontrado um espécime destes que tão carinhosamente referes. Contudo conheço bem um outro espécime mais bem adaptado ao meio que nas feiras e festas desse Alentejo alem do belo do tremoço, vende ainda o torrão de Alicante. Torrão esse objecto desprezível e nunca comparável a sua eminencia o tremoço!
Uma beijoca, e desculpa lá a intrusão!